Páscoa!
Dia de Páscoa. Páscoa na minha aldeia.
Amanheceu cinzento e frio. Dia de sorriso perdido, orvalhento, perdido em névoas, que só os sorrisos faziam esbater as tristezas, tal como as alegrias esfuziantes das crianças esperando o Cristo na cruz, Aquele que se deu por todos nós sem nada pedir em troca ou, porventura, pedindo: que o amor fosse o nosso compromisso e a nossa única meta na estrada da vida.
Páscoa! Dia de Páscoa!
A missa aconteceu no cedo, cedo estralejaram os foguetes no cinzento céu, despertando os viventes para a vida, pois o compasso não tardava e Cristo entraria em casa.
Páscoa! Dia de Páscoa!
Ao longe ouve-se o tilintar das campaínhas, correm as moças e as mães a colocarem as flores junto à porta de casa, atapetando o chão de Deus, oferecendo um chão sagrado ao Cristo que oscularão. Que frenesim! Que fé! E festa também, pois as crianças não páram: saltitam por todo o lado, pedindo amêndoas, pequenos chocolates, lambarices de ocasião que amanhã os conduzirão ao médico para aborrecimento dos pais e desconsolo dos próprios. Mas hoje é dia de Páscoa, dia de festa, de alegria e de paz.
Páscoa! Dia de Páscoa!
O Compasso ainda não chegou à minha Rua. A campaínha escuta-se com mais nitidez: está próxima. Ao longo da comprida rua, ladeando-a, os passeios pejados de pessoas: filhos, netos, familiares e amigos que se juntam para beijar a cruz. Tradição. Gesto bonito. E de uma casa passam a outra, engrossando o acompanhamento, parecendo uma procissão.
Pasoa! Dia de Páscoa! Páscoa na minha aldeia.
Ao fim da tarde, quando as diversas cruzes já tiverem percorrido toda a freguesia, recolhem à igreja, em festa e alegria. Por fim, estoiram foguetes, sinal de promessa cumprida.
É assim a Páscoa na minha aldeia.